terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quem foi Joaquim Manuel Botelho

Uma situação que sempre me intrigou no cemitério da Lousa, é a existência, mesmo junto à porta principal e bem no meio da passagem, de uma campa coberta com uma lápide em granito, sobre a qual muitas pessoas passam, principalmente nos dias em que há algum funeral.

Quando eu era miúdo e ia ao cemitério, fazia por tudo para não passar por cima dessa sepultura. Questionando quem era e porque o enterraram ali, lembro-me de ouvir na voz do povo que era um homem muito rico mas que tratou mal muita gente. Quando morreu foi ali enterrado para ser pisado, quando morto, por todos aqueles que maltratou, enquanto vivo.

Não sabendo o teor de verdade daquela razão, que também não respondia ás minhas questões, parti recentemente para uma pequena investigação que me ajudou, pelo menos, a identificar quem era a pessoa.

Decifrada a inscrição gravada na lápide e fazendo mais algumas pesquisas, verificamos que se encontra ali sepultado Joaquim Manuel Botelho, nada mais do que o fundador da família Botelho de Escalos de Cima, que tanto quanto sabemos nunca teve nada a ver com a Lousa, a não ser que frequentava a nossa igreja, como veremos mais adiante. Vejamos então um pouco dos costados e da descendência deste senhor:

- O Alferes Manuel Fernandes Carrilho, casado com Maria Jerónima, naturais da Lardosa, foram pais do Alferes Manuel Fernandes Carrilho Grilo.

- O Alferes Manuel Fernandes Carrilho Grilo, casado com Catarina Gonçalves Louro, filha de António Gonçalves Saraiva e de Maria Gonçalves Louro, da Lardosa, foram os pais de Manuel Fernandes Carrilho de Aragão.

- Manuel Fernandes Carrilho de Aragão, Capitão de Ordenanças casado com Isabel Maria Botelho, sobrinha do Vigário da Fatela, aparentada com Maria de Eça Teles, Administradora do Morgado do Paul, foram os pais de Joaquim Manuel Botelho.

- Joaquim Manuel Botelho, nasceu na Lardosa em 12-06-1761 e faleceu em Escalos de Cima em 16-08-1826 (ver assento de óbito mais abaixo), tendo sido sepultado no cemitério da Lousa. Foi Sargento Mor de Milícias, abastado proprietário em Escalos de Cima, onde exerceu o cargo de Inspector das Amoreiras e foi-lhe passada Carta de Brasão de Armas. Foi casado com Angélica Maria Joaquina Baptista Álvares, natural de Urgeira – Guarda e foram os pais de António Justiniano Batista Botelho.

Relativamente à sua descendência temos:

- António Justiniano Batista Botelho, natural dos Escalos de Cima, foi Bacharel. Do seu terceiro casamento com Joaquina Amália da Silva Biscaia Hortas de Gáfete, tiveram João Baptista da Silva Hortas Botelho em 23-05-1845 e Inês Angélica Hortas Botelho em 19-05-1846 a qual casou com José Lúcio Gouveia, 1º Barão de Gáfete em 23-05-1882 e faleceu em Gáfete (Crato) em 30-09-1931.

- João Baptista da Silva Hortas Botelho nasceu em Escalos de Cima em 23-05-1845. Casou com sua prima Maria José de Barros Castelo Branco, filha de Tomé de Barros de Castelo Branco e de Maria Cassiana Biscaia e Silva, e tiveram Tomé de Barros Botelho (sem geração), Maria da Conceição de Barros Botelho em 23-01-1874 que viveu e casou em Gáfete (Crato), com João Rafael de Morais, e Luís António de Barros Botelho em 22-09-1883 que casou com Maria do Sagrado Coração de Jesus Correia da Silva de Sampaio de Melo e Castro, que era filha dos 1ºs Viscondes de Castelo Novo.

Identificado o senhor, a sua origem e a sua descendência, falta apenas saber porque foi sepultado na Lousa em vez dos Escalos de Cima e porquê naquele local. Quanto a isso pouco ou quase nada descobrimos.

Consultando o Livro de Registo de Óbitos da Paróquia da Lousa, entre 1812 e 1859, encontramos o seguinte registo:

“Joaquim Manoel Bottelho viúvo natural de Escallos de Cima, e fregues desta Freguesia, faleceo com todos os Sacramentos em dezaceis de Agosto de mil oito centos e vinte e seis, e fez testamento. Foi sepultado no cemitério da Freguesia. E para constar fis este termo, que assinei. Louza dia mes era supra.
Vigº Fr. Joaquim Antonio Felisberto Grandella”

Este registo nada nos diz relativamente aos motivos, referindo apenas que Joaquim Manuel Botelho frequentava a igreja da Lousa (era paroquiano – fregues) e fez testamento. Diz também que faleceu em 16 de Agosto de 1821 o que contraria a data indicada na lápide.

Refira-se ainda que quando faleceu, os mortos nos Escalos de Cima eram sepultados no adro da igreja, pois só veio a ter cemitério em 1838. A Lousa já tinha cemitério desde 1815, localizado ao lado da igreja (entre a igreja e o quintal dos Goulões). O cemitério actual só foi construído em 1885, pelo que podemos concluir que terá sido sepultado no cemitério velho e trasladado, em 1885, para o cemitério novo, altura em que terá sido colocada a lápide.

Porque foi sepultado no cemitério da Lousa e naquele local, porque frequentava a igreja da Lousa em vez da de Escalos de Cima, são questões a que não sabemos responder, pelo que ficamos por aqui ... por enquanto.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Conseguir um empréstimo é "fogo"

Para quem acha que actualmente é difícil e complicado obter um empréstimo, vejam como era no ano de 1826, para conseguir um empréstimo de uma quantia equivalente a sete cêntimos na moeda actual.
A transcrição que fazemos é literal, quer na ortografia, quer na pontuação.



Escriptura de Juro de cinco por cento na forma da Lei novissima que toma Jose Domingues do Lugar da Louza termo desta Cidade de Castello Branco das maos do Thezoureiro da Irmandade das Almas do mesmo Lugar Jose Dias Capinha da quantia de quinze mil reis metalicos.
Saibão quantos este Publico Instrumento de Escriptura de juro de sinco por cento na forma da Lei Novissima ou como em direito melhor lugar haja e dizer se possa mais firme e valioso por virem que sendo no Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e vinte seis aos vinte dias do mes de Junho do dito anno nesta cidade de Castello Branco no meu Escriptorio sendo presentes Jose Dias Capinha do Lugar da Louza Thesoureiro da Irmandade das Almas do dito Lugar de huma banda, e da outra Jose Domingues tam bem do ditto Lugar da Louza termo desta cidade de Castello Branco todos conhecidos de mim Tabaliaõ e das Testemunhas ao diante nomeadas e no fim asignadas de que dou minha fé verem os proprios que aqui nomeio e declaro e pelo dito Jose Domingues foi dito na minha presença e das mesmas testemunhas que elle tomava a razão de juro de cinco por cento na forma da Lei Novissima quinze mil reis metalicos das maos do Thezoureiro da Irmandade das Almas do dito Lugar Jose Dias Capinha, por tempo de hum anno somente, que principia a correr do dia da data desta em diante e hade findar em outro tal dia do anno de mil oito centos e vinte sete com a declaraçaõ de que elle devedor podera continuar na conservacaõ da dita quantia em seu poder e pelo mesmo rendimento todo o mais tempo que ella credora quizer conservar-lha. E logo pelo Devedor foi dito perante mim e Testemunhas ter ja recebido das maos da dita Irmandade a quantia mencionada de quinze mil reis metal e que se dava por entregue della e se obrigava a satisfazela e pagala com todos os Juros vencidos a dita Irmandade das Almas Credora findo que seja o dito tempo e por ella pedida em qualquer outro tempo em que lhe queira conservar o referido juro ao que tudo elle devedor se sujeita e obriga por sua pessoa e todos os seus bens em geral presentes e fecturos havidos e por haver os quaes todos em geral Hipothecao a esta Escriptura e em expecial Hipothecao Huma Morada de Casas com seu Logradouro no Lugar da Louza na Rua de Santa Maria que pegaõ com Jose Cardoso e com Jose Nunes as quais saõ suas livres e tarem largadas de foro, de Capella Vinculo ou Morgado, e nem estaõ sugeitas a outra alguma Escriptura de Divida, ou fiança, mais do que tao somente a esta Escriptura a que voluntariamente e sem constrangimento de pessoa alguma as Hipotheca. E pelo mesmo foi mais dito que alem da sua Hipotheca e para maior segurança da dita irmandade credora, e validade desta Escriptura nomeava e offerecia por seu fiador abonador e principal pagador Antonio Duarte Jueirinhas Lavrador deste Lugar e bem conhecido de mim Tabaliaõ e das mesmas Testemunhas disse na minha presença e das sobreditas Testemunhas de que dou minha fé que elle muito de sua livre vontade e sem que fosse induzido nem constrangido por pessoa alguma ficava por fiador, abonador e principal pagador do Outorgante devedor Jose Domingues e se obrigava por sua pessoa e por todos os seus bens em geral a satisfazer a dita Credora a mencionada quantia de quinze mil reis em metal que haviaõ recebido por maõ do seu Thezoureiro. E logo pelo dito Devedor foi mais dito na minha presença e das Testemunhas que elle se obrigava por sua pessoa e por todos os seus bens em geral a tirar para, e a salvo desta fiança ao dito seu fiador de tal forma que este em razaõ desta sua fiança nunca viria a ter o mais leve prejuizo em sua pessoa nem em seus bens, e por isso no caso delles devedores naõ pagarem no tempo em que lhe for pedida pela Credora a mencionada quantia querem e he sua vontade que a dita credora ponha contra elle Devedor a competente acçaõ de assignaçaõ de des dias, e que no caso que mudem de domicilio se obrigaõ com tudo a responder no Juizo do Geral desta cidade, e que desde ja renunciaõ o Juizo de seu foro. E logo pelo Thezoureiro da Irmandade das Almas foi dito na minha presença e das testemunhas que elle aseitava a presente Escriptura com todas as clausulas e condiçoes asima extipuladas assim o disseraõ e outorgarao e pediraõ a mim Tabaliaõ que esta Escriptura lhe fizesse estipulasse, e aceitasse a qual eu fis estipulei, e aceitei como pessoa Publica que sou. Outorgante e Extipulante em nome das partes presentes e ausentes a quem devesse tocar possa em razaõ do meu Officio e por mim ser Distribuída como se ve do Bilhete da Destribuiçaõ do theor seguinte – Escriptura de juro de sinco por sento na forma da Lei que toma Jose Domingues do Lugar da Louza deste termo da quantia de quinze mil reis metalicos das maos do Thezoureiro da Irmandade das Almas Jose Dias Capinha do mesmo Lugar da Lousa no anno de mil oito centos e vinte sinco no mes de Dezembro do dito anno Destribuida ao Tabaliaõ Silva a folhas duzentos e sete verso em o primeiro de Maio de mil oito centos e vinte seis = Crespo = Manifestada a folhas cento e setenta e oito verso do Livro Competente = Leitaõ = Numero trinta e dois a folhas treze do Livro oitavo pagou quarenta reis de Sello Real. Castello Branco dois de Maio de mil oito centos e vinte seis = Pentiado = Mattos = Não se continha mais no dito Bilhete, manifesto, e Sello Real que aqui fiz copiar bem e fielmente via verdade e foraõ em tudo Testemunhas presentes que viraõ fazer e ouvirao Ler Domingos Martins Ramos, e Jose Vas Ratto ambos deste Lugar da Louza e conhecidos de mim Tabaliaõ de que dou minha fé e Eu Antonio da Matta e Silva Escrivão que o escrevi e em fé de tudo asignei.
Jose + Domingues
Jose + Dias Capinha o Velho
Antonio Duarte Geirinhas
Jose + Vas Ratto
Domingos Martins
Antonio da Matta e Sª

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Assembleia de Freguesia

A próxima Assembleia de Freguesia vai realizar-se no dia 18 de Setembro, pelas 21h30m, no salão anexo à Junta de Freguesia, e terá a seguinte ordem de trabalhos:

Ponto 1 - Apreciar uma informação escrita do Presidente da Junta sobre a actividade exercida e a situação financeira da freguesia.

Ponto 2 - Apreciar e discutir o conteúdo da Lei 22/2012 de 30 de Maio que aprova o regime jurídico da reorganização administrativa territorial autárquica e deliberar e emitir parecer nos termos do nº 4 do Artigo 11 da referida lei.

Os períodos de antes da ordem do dia e depois da ordem do dia, serão preenchidos nos termos do Regimento.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Recordando ... (XLII)

Provas de perícia da Lousa em Maio de 1992 e 1993.

Desconhecemos o autor destes vídeos colocados recentemente no YouTube, mas não podemos deixar de lhe agradecer por nos ter presenteado com esta relíquia. Aqui ficam 53 minutos de filme para quem quiser recordar.




segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Bibliografia: “As Luzes de Leonor”

Da autoria de Maria Teresa Horta e editado pela Dom Quixote em Maio de 2011, “As Luzes de Leonor” é uma obra que se poderá incluir entre as grandes obras literárias do século XXI, onde história e literatura se misturam para nos conduzir ao século XVIII e à história de vida, extraordinária e aventurosa, da Marquesa de Alorna, uma figura feminina ímpar na história literária e política de Portugal, que seduz os espíritos mais cultos da época, o chamado “século das luzes”, e abre as portas ao romantismo em Portugal.

O livro inclui algumas referências à permanência do Marquês de Alorna na Lousa, quando foi Comandante da Legião Lusitana, a qual esteve estacionada em 1800-1801 na aldeia da Lousa (ver mais pormenores sobre este assunto aqui).