Uma situação que sempre me intrigou no cemitério da Lousa, é a existência, mesmo junto à porta principal e bem no meio da passagem, de uma campa coberta com uma lápide em granito, sobre a qual muitas pessoas passam, principalmente nos dias em que há algum funeral.
Quando eu era miúdo e ia ao cemitério, fazia por tudo para não passar por cima dessa sepultura. Questionando quem era e porque o enterraram ali, lembro-me de ouvir na voz do povo que era um homem muito rico mas que tratou mal muita gente. Quando morreu foi ali enterrado para ser pisado, quando morto, por todos aqueles que maltratou, enquanto vivo.
Não sabendo o teor de verdade daquela razão, que também não respondia ás minhas questões, parti recentemente para uma pequena investigação que me ajudou, pelo menos, a identificar quem era a pessoa.
Decifrada a inscrição gravada na lápide e fazendo mais algumas pesquisas, verificamos que se encontra ali sepultado Joaquim Manuel Botelho, nada mais do que o fundador da família Botelho de Escalos de Cima, que tanto quanto sabemos nunca teve nada a ver com a Lousa, a não ser que frequentava a nossa igreja, como veremos mais adiante. Vejamos então um pouco dos costados e da descendência deste senhor:
- O Alferes Manuel Fernandes Carrilho, casado com Maria Jerónima, naturais da Lardosa, foram pais do Alferes Manuel Fernandes Carrilho Grilo.
- O Alferes Manuel Fernandes Carrilho Grilo, casado com Catarina Gonçalves Louro, filha de António Gonçalves Saraiva e de Maria Gonçalves Louro, da Lardosa, foram os pais de Manuel Fernandes Carrilho de Aragão.
- Manuel Fernandes Carrilho de Aragão, Capitão de Ordenanças casado com Isabel Maria Botelho, sobrinha do Vigário da Fatela, aparentada com Maria de Eça Teles, Administradora do Morgado do Paul, foram os pais de Joaquim Manuel Botelho.
- Joaquim Manuel Botelho, nasceu na Lardosa em 12-06-1761 e faleceu em Escalos de Cima em 16-08-1826 (ver assento de óbito mais abaixo), tendo sido sepultado no cemitério da Lousa. Foi Sargento Mor de Milícias, abastado proprietário em Escalos de Cima, onde exerceu o cargo de Inspector das Amoreiras e foi-lhe passada Carta de Brasão de Armas. Foi casado com Angélica Maria Joaquina Baptista Álvares, natural de Urgeira – Guarda e foram os pais de António Justiniano Batista Botelho.
Relativamente à sua descendência temos:
- António Justiniano Batista Botelho, natural dos Escalos de Cima, foi Bacharel. Do seu terceiro casamento com Joaquina Amália da Silva Biscaia Hortas de Gáfete, tiveram João Baptista da Silva Hortas Botelho em 23-05-1845 e Inês Angélica Hortas Botelho em 19-05-1846 a qual casou com José Lúcio Gouveia, 1º Barão de Gáfete em 23-05-1882 e faleceu em Gáfete (Crato) em 30-09-1931.
- João Baptista da Silva Hortas Botelho nasceu em Escalos de Cima em 23-05-1845. Casou com sua prima Maria José de Barros Castelo Branco, filha de Tomé de Barros de Castelo Branco e de Maria Cassiana Biscaia e Silva, e tiveram Tomé de Barros Botelho (sem geração), Maria da Conceição de Barros Botelho em 23-01-1874 que viveu e casou em Gáfete (Crato), com João Rafael de Morais, e Luís António de Barros Botelho em 22-09-1883 que casou com Maria do Sagrado Coração de Jesus Correia da Silva de Sampaio de Melo e Castro, que era filha dos 1ºs Viscondes de Castelo Novo.
Identificado o senhor, a sua origem e a sua descendência, falta apenas saber porque foi sepultado na Lousa em vez dos Escalos de Cima e porquê naquele local. Quanto a isso pouco ou quase nada descobrimos.
Consultando o Livro de Registo de Óbitos da Paróquia da Lousa, entre 1812 e 1859, encontramos o seguinte registo:
“Joaquim Manoel Bottelho viúvo natural de Escallos de Cima, e fregues desta Freguesia, faleceo com todos os Sacramentos em dezaceis de Agosto de mil oito centos e vinte e seis, e fez testamento. Foi sepultado no cemitério da Freguesia. E para constar fis este termo, que assinei. Louza dia mes era supra.
Vigº Fr. Joaquim Antonio Felisberto Grandella”
Este registo nada nos diz relativamente aos motivos, referindo apenas que Joaquim Manuel Botelho frequentava a igreja da Lousa (era paroquiano – fregues) e fez testamento. Diz também que faleceu em 16 de Agosto de 1821 o que contraria a data indicada na lápide.
Refira-se ainda que quando faleceu, os mortos nos Escalos de Cima eram sepultados no adro da igreja, pois só veio a ter cemitério em 1838. A Lousa já tinha cemitério desde 1815, localizado ao lado da igreja (entre a igreja e o quintal dos Goulões). O cemitério actual só foi construído em 1885, pelo que podemos concluir que terá sido sepultado no cemitério velho e trasladado, em 1885, para o cemitério novo, altura em que terá sido colocada a lápide.
Porque foi sepultado no cemitério da Lousa e naquele local, porque frequentava a igreja da Lousa em vez da de Escalos de Cima, são questões a que não sabemos responder, pelo que ficamos por aqui ... por enquanto.
Ola
ResponderEliminarEu tambem quando era pequenino nao queria passar pela a sepultura.A minha avo tambem me contou que o homem era mau e queria que o povo lhe passasse por cima.Nao pensava que a sepultura era tao velha porque nunca pude ler a data escrita na pedra.
Espero que o senhor encontre a verdade de esta historia. Vou estar de volta ao site para saber tudo.
Muito obrigado pelo vosso empenho.
Bruno PIRES.